terça-feira, 22 de junho de 2010

Aventuras e Desventuras na Virada Cultural 2010

Luisa Teles

Às 17 horas do sábado, dia 15 de maio, saio eu para a Avenida Paulista, rumo à Casa das Rosas para conferir um show de Lanny Gordin e Banda Kaoll, primeira de muitas atrações da minha programação pessoal para a quinta edição da Virada Cultural, que acontece desde 2005 na capital paulista.
Ruas, metrôs, ônibus... Mesmo com o movimento grande e costumeiro nas ruas da cidade algo estava diferente, havia uma alegria diferente pairando no ar, clima mesmo de grande festa a céu aberto.
Para quem ainda não tem intimidade com o evento, a Virada é algo assim: Dezenas de shows de música de todos os tipos, danças variadas, exposições diversas, teatro e até aquelas bailarinas fazendo tecido acrobático, penduradas em guindastes e outras parafernálias, fazendo aquele balé aéreo incrível que me dá arrepios só de olhar. E não são só bailarinas que ficam suspensas nesta grande festa, havia música e até arte corporal com seus artistas penduradas nos céus, ou tetos, da cidade.
Enfim, com meu itinerário em mãos e a tabela em Excel que meu pai fez (A Virada lá em casa é tão ou mais esperada que o Natal, pelo menos por mim, minha irmã e meu pai) com todas as atrações da Virada em ordem de acontecimento, com endereços e demais informações necessárias (puta trabalhão, tem coisas que só os pais fazem) e uma bolsa gigante com água e caderninho de anotações, fui eu para as ruas.
Além do kit de sobrevivência jornalística levava também uma filmadora digital para filmar o show do Lanny Gordin, guitarrista genial e objeto de estudo do meu Trabalho de Conclusão de Curso da faculdade.
Então estava eu finalmente lá, na Casa das Rosas, vendo o show que era o mais importante pra mim. Comecei a filmar, dividi a tarefa com uma prima e anotei minhas impressões sobre as músicas instrumentais da banda, em parceria com meu guitarrista favorito.
A guitarra “contemporânea” estava demais, apesar de não entender nada de música (tarefa esta que deixo pra irmã que estuda composição e que tira minhas duvidas de leiga). Apesar disso, estava gostando e, pelo visto, não era só eu: várias “figuras”- digo “figuras” por que eram pessoas assim, bem singulares em suas formas de vestir e gesticular- começaram a levantar e a dançar sob o som dos instrumentos e então o pequeno público do local começou a responder mais animado à apresentação e eu pensei: “É por essas e outras que gosto dessa cidade poluída, é umas das poucas no Brasil, quiçá a única, onde pessoas não se parecem todas umas com as outras...”. Tinha um rapaz de seus vinte e poucos anos que parecia ter saído de uma festa temática dos anos 70, boca de sino colorida, bata, cabelão Black Power (será que era dele aquela cabeleira?) e outros não menos chamativos e dos mais variados estilos curtiam aquele som instrumental como se fossem super fãs da banda. Aí está outra coisa que me empolga no “clima” que paira por São Paulo nos finais de semana de Virada: as pessoas que vão pras ruas estão realmente abertas e interessadas em ver coisas diferentes, coisas que já conhecem e gostam e coisas que nem pensaram existir.
Uma das minhas próximas paradas, mais tarde da noite, seria numa dessas coisas que até pouco tempo atrás eu nem sabia da existência, as suspensões corporais, que estariam acontecendo entre tatuagens e outras modificações corporais do tipo. As suspensões são mais ou menos assim: coloca- se piercings nos corajosos artistas, em suas costas, geralmente, que têm o formato de argolas, pelas quais passam correntes que os puxam para o alto. E ficam eles lá, pendurados ao som de músicas, em transe e sangrando. Pode ser demais para alguns estômagos, mas eu estava super a fim de ir ver isso de perto e coloquei a performance no meu itinerário.
Ao fim do meu primeiro show fui eu cumprir meu dever na sede montada para que minha turma de faculdade, do interior, tivesse uma redação segura, quentinha e amiga na cidade.
A sede, ou redação, foi o apartamento de um amigo que mora pertinho da Paulista. Lá, conversei com colegas- futuros- jornalistas que chegavam e saiam para as ruas e o clima era de novidade, de descoberta e, é claro, correria. Entre um post no Facebook, no Twitter , no blogue e uma, ou duas, cervejinhas, perdi a hora e sai correndo para minha próxima atração, que era o show do Arrigo Barnabé.
Não era lá tão perto, o ônibus não passou (mais tarde descobri que os ônibus de sempre não iriam neste dia para o meu destino) e eu perdi o começo do show, cheguei ao finalzinho e não encontrei meu pai lá, como combinado. Mas o som de Arrigo, sempre diferente e empolgante, embalava quem o assistia.

Bem indignada, mas ainda animada para a noite, fui para cara para esperar a hora da suspensão corporal e, neste meio tempo, passando pelas ruas vi várias outras coisas. Passei por um lugar que me é estranho, ouvi um reggae, vi e evitei uma avenida lotada até que vi, andando na minha frente, duas senhoras que facilmente poderiam ser minhas avós, comentando animadas sobre tudo de lindo que viram na Estação da Luz e que iam agora para casa, todas faceiras por terem ficado uma tarde toda na Virada Cultural.
É justamente esse o clima, gente na rua com o mesmo interesse (ainda que queiram ver atrações diferentes) o de curtir um fim de semana variado. São Paulo fica, neste fim de semana de festival, a céu aberto, mais segura, mais alegre e mais (por que não?) familiar. Pelo menos é essa a sensação que eu tenho das duas vezes que fui para a cidade só para isso, de clima de família, de correria boa pra ver o que se curte, de noites agradáveis e de ver gente de bem com a vida cruzando com você pelas calçadas.
Ao chegar em casa comi, comi e comi mais um pouco, aí parti para as suspensões corporais. Perdi uma das minhas atrações escolhidas, desta vez não vi nem o final e decidi que “por hoje seria só, pessoal” e fui embora descansar. Já estava tarde e eu estava na rua desde antes da Virada começar oficialmente, bem antes, hora do almoço, mais ou menos, e fui dormir o sono dos injustiçados.
No quarto escuro, sem sono por causa da agitação e da correria do dia, olhei minha bolsa ali pendurada e o caderninho na mesa e pensei que esta deve ter sido sim, a Virada Cultual mais legal pra mim, a Virada na qual eu passei mais tempo “apenas” zanzando pelas ruas, vendo as luzes da cidade, ouvindo de curiosa as conversas das pessoas que passavam, parando sem ter planejado em lugares que eu nem sabia o nome e sentindo o alívio que traz aquele friozinho que chega com o cair da noite, que tira o peso de caminhar sob o sol.
Decidi, antes de minhas pálpebras serem empurradas para baixo por força maior, que as minhas próximas Viradas seriam assim: sem planejamento (só o necessários para ver o que eu realmente amar e não puder viver sem na programação) e sem muitos horários, só indo por onde o som fosse mais interessante e as luzes mais brilhantes.

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