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Trabalho de cobertura da Virada Cultural 2010 realizado pelos alunos do 4º ano de Jornalismo Multimídia da Facamp, sob a coordenação da professora Bia Abramo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mais um dia em que São Paulo não parou

Leonardo Maturana e Patrícia Ruzene

A noite não estava tão fria quanto o prometido e o movimento na Estação da Luz não era tão assustador. A primeira grande atração da noite foram os anônimos que se aventuravam ao piano disponível no pátio da estação.

Em uma das saídas da estação, na Av. Cásper Libero, dois palcos para bandas independentes. Do outro, em frente à Praça da Luz, um palco para a Orquestra Sinfônica Municipal e outro para apresentações de dança.

Ficamos em frente à Praça da Luz, onde o movimento era maior. Em frente aos palcos, cadeiras de plástico para que o público, predominantemente de famílias, casais de todas as idades e idosos assistisse sentado. Os telões que deveriam estar ao lado do palco não foram instalados; a organização alegou problemas técnicos. Quem ficou em pé teve de se virar: subir no ombro do namorado, no muro da estação, ficar na ponta dos pés e, no caso de alguns espertinhos, ficar onde estavam as cadeiras, atrapalhando quem estava sentado. Mas estes logo saiam quando levavam vaias, ofensas e latas na cabeça. Nada que gerasse maiores conflitos. Mas se ocorresse, policiais e bombeiros estavam por toda parte.

Também havia atendimento médico no local. Por duas vezes uma ambulância teve de abrir espaço entre as pessoas. O pessoal de plantão também não teve muito trabalho, até à 00h00 foram feitos apenas dois atendimentos: uma mulher embriagada, que cortou o supercilio em uma queda, e uma senhora com dor nas costas.

A honra de abrir a noite de apresentações de dança ficou com a Cia de Dança do grupo Raça, de São Paulo. Em uma homenagem à coreógrafa Roseli Rodrigues, fundadora do grupo falecida em março deste ano, os bailarinos mostraram muita técnica e sincronia no palco. Composições de tango, como "Por una cabeza" de Carlos Gardel, embalaram os movimentos contemporâneos que faziam referência a dança típica argentina na apresentação "Tango Sob Dois Olhares".

Duplas e trios entraram e saíram de cena durante trinta corridos minutos e mantiveram o público atento à mistura de sensualidade, dinâmica e precisão dos bailarinos. Elementos cénicos e o jogo de luzes, hora azuis, hora âmbar, ajudaram a compor o espetáculo.




Entre uma apresentação e outra, pausa para uma boquinha. Encontrar comida não foi muito fácil. Do lado da Praça da Luz só havia uma barraca de comida, com uma fila quilométrica. Nada de pipocas, hot-dogs ou espetinhos. Do outro lado da estação, alguns butecos da Av. Cásper Libero estavam abertos, mas nas ruas só um vendedor de amendoim e dois carrinhos de milho cozido, que perceberam a procura crescente e subiram o preço de R$ 3,00 para R$ 4,00 por espiga após as 22h30. Lá pelas tantas, aparecem uns garotos vendendo bandejas de sushi a R$ 5,00 cada. Pode até parecer loucura comprar sushi de rua, mas a aparência estava boa e, não fossem os milhos que comemos, teríamos encarado uma bandejinha. Antes da 1h, os garotos já tinham vendido tudo.




A segunda apresentação, "Diários de Viagem", fugiu um pouco do que consensualmente é chamado de dança moderna. A falta de ousadia no figurino, na iluminação e na aposta musical marcaram uma apresentação fraca.
O grupo apostou em elementos teatrais, com uma narração orientando os movimentos dos bailarinos. Teria funcionado se o texto não fosse tão confuso e as movimentações tão parecidas que acabavam não dizendo muito. A mensagem que a companhia Omstrab tentou passar se perdeu, e o público foi diminuindo a cada minuto.

Apresentação ruim. Ótimo pretexto para sair de fininho até a Praça da Luz e conferir o tal do Vagalume (Die Lichtwessen), que prometia ser a apresentação mais criativa da noite. Perdemos a viagem, a apresentação tinha sido adiada para 1h30. Restava cruzar a estação em direção à Av. Cásper Libero em busca de algo interessaste. Mas, a partir das 22h, passar de um lado para o outro da estação tornou-se um desafio. As 23h sairia o primeiro “Trem das 23h”, um passeio em homenagem a Adoniran Barbosa, e uma hora antes as filas já tomavam conta de toda parte superior da estação.

Enquanto o palco da dança era preparado para a apresentação do grupo Gnawa, a Orquestra Sinfônica Municipal e o Coral Lírico executavam Carmina Burana no palco oposto. Todo mundo reconheceu a música, que deve ser a mais utilizada em trailers de filme em todos os tempos. Aqueles que estavam sentados no palco da dança viravam as cadeiras para prestigiar a orquestra, que foi muito aplaudida.

Uma apresentação de luzes e sombras na arquitetura acompanhou algumas das execuções da orquestra. O efeito da projeção, que prometia ser algo muito interessante, deixou a desejar. Sem a liberação da prefeitura para que as luzes da estação fossem desligadas, restou ao grupo Cia Quase Cinema fazer uso de um foco de luz em um pequeno canto do prédio da Estação um pouco mais escuro. Lutas de espadas e interpretações corporais se somaram a barcos e fantasias para criar um efeito de sombra na arquitetura, o que era complementado com luzes coloridas e em formatos curiosos. Porém nada que despertasse muito a atenção do público atento a cada nota da Orquestra.




As 23h foi a vez da Cia de dança de São Paulo mostrar a que veio. Foram trinta minutos de muita concentração nos movimentos dos melhores bailarinos do país em um espetáculo formidável. Técnica clássica aliada ao conhecimento do conceito de dança contemporânea, tudo muito bem ensaiado para que a composição de Gnawa fosse impecável. O figurino em tons de bege para os homens e preto para as mulheres criou efeito visual com a iluminação dando um toque especial a sincronia dos movimentos da dança livre.

Seguindo a proposta, já que o nome Gnawa se refere a um grupo ético e religioso de ordem Sufi no Marrocos, descendentes de antigos escravos da África subsaariana que migraram em caravanas com o comércio, foram utilizadas velas durante a apresentação e a trilha musical era de batidas fortes e marcadas como os batuques africanos. Os passos dos bailarinos, como não poderia deixar de ser, acompanhavam essa dinâmica com precisão e força aliados a agilidade do impecável corpo de baile.



Ainda inebriados pela apresentação, deixamos a estação da luz para repor as energias. Eram duas horas da manhã, e pessoas chegavam e saiam da estação de metro como se fosse horário de pico. Paramos numa padaria lotada em algum lugar próximo à Av. Paulista. As três da manhã ainda havia muita gente caminhando pelas ruas da capital paulista, mostrando que a Virada Cultural é realmente um evento incrível capaz de transformar os hábitos dos que tanto temem pela segurança. Mais um dia em que a cidade não parou.
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terça-feira, 22 de junho de 2010

Aventuras e Desventuras na Virada Cultural 2010

Luisa Teles

Às 17 horas do sábado, dia 15 de maio, saio eu para a Avenida Paulista, rumo à Casa das Rosas para conferir um show de Lanny Gordin e Banda Kaoll, primeira de muitas atrações da minha programação pessoal para a quinta edição da Virada Cultural, que acontece desde 2005 na capital paulista.
Ruas, metrôs, ônibus... Mesmo com o movimento grande e costumeiro nas ruas da cidade algo estava diferente, havia uma alegria diferente pairando no ar, clima mesmo de grande festa a céu aberto.
Para quem ainda não tem intimidade com o evento, a Virada é algo assim: Dezenas de shows de música de todos os tipos, danças variadas, exposições diversas, teatro e até aquelas bailarinas fazendo tecido acrobático, penduradas em guindastes e outras parafernálias, fazendo aquele balé aéreo incrível que me dá arrepios só de olhar. E não são só bailarinas que ficam suspensas nesta grande festa, havia música e até arte corporal com seus artistas penduradas nos céus, ou tetos, da cidade.
Enfim, com meu itinerário em mãos e a tabela em Excel que meu pai fez (A Virada lá em casa é tão ou mais esperada que o Natal, pelo menos por mim, minha irmã e meu pai) com todas as atrações da Virada em ordem de acontecimento, com endereços e demais informações necessárias (puta trabalhão, tem coisas que só os pais fazem) e uma bolsa gigante com água e caderninho de anotações, fui eu para as ruas.
Além do kit de sobrevivência jornalística levava também uma filmadora digital para filmar o show do Lanny Gordin, guitarrista genial e objeto de estudo do meu Trabalho de Conclusão de Curso da faculdade.
Então estava eu finalmente lá, na Casa das Rosas, vendo o show que era o mais importante pra mim. Comecei a filmar, dividi a tarefa com uma prima e anotei minhas impressões sobre as músicas instrumentais da banda, em parceria com meu guitarrista favorito.
A guitarra “contemporânea” estava demais, apesar de não entender nada de música (tarefa esta que deixo pra irmã que estuda composição e que tira minhas duvidas de leiga). Apesar disso, estava gostando e, pelo visto, não era só eu: várias “figuras”- digo “figuras” por que eram pessoas assim, bem singulares em suas formas de vestir e gesticular- começaram a levantar e a dançar sob o som dos instrumentos e então o pequeno público do local começou a responder mais animado à apresentação e eu pensei: “É por essas e outras que gosto dessa cidade poluída, é umas das poucas no Brasil, quiçá a única, onde pessoas não se parecem todas umas com as outras...”. Tinha um rapaz de seus vinte e poucos anos que parecia ter saído de uma festa temática dos anos 70, boca de sino colorida, bata, cabelão Black Power (será que era dele aquela cabeleira?) e outros não menos chamativos e dos mais variados estilos curtiam aquele som instrumental como se fossem super fãs da banda. Aí está outra coisa que me empolga no “clima” que paira por São Paulo nos finais de semana de Virada: as pessoas que vão pras ruas estão realmente abertas e interessadas em ver coisas diferentes, coisas que já conhecem e gostam e coisas que nem pensaram existir.
Uma das minhas próximas paradas, mais tarde da noite, seria numa dessas coisas que até pouco tempo atrás eu nem sabia da existência, as suspensões corporais, que estariam acontecendo entre tatuagens e outras modificações corporais do tipo. As suspensões são mais ou menos assim: coloca- se piercings nos corajosos artistas, em suas costas, geralmente, que têm o formato de argolas, pelas quais passam correntes que os puxam para o alto. E ficam eles lá, pendurados ao som de músicas, em transe e sangrando. Pode ser demais para alguns estômagos, mas eu estava super a fim de ir ver isso de perto e coloquei a performance no meu itinerário.
Ao fim do meu primeiro show fui eu cumprir meu dever na sede montada para que minha turma de faculdade, do interior, tivesse uma redação segura, quentinha e amiga na cidade.
A sede, ou redação, foi o apartamento de um amigo que mora pertinho da Paulista. Lá, conversei com colegas- futuros- jornalistas que chegavam e saiam para as ruas e o clima era de novidade, de descoberta e, é claro, correria. Entre um post no Facebook, no Twitter , no blogue e uma, ou duas, cervejinhas, perdi a hora e sai correndo para minha próxima atração, que era o show do Arrigo Barnabé.
Não era lá tão perto, o ônibus não passou (mais tarde descobri que os ônibus de sempre não iriam neste dia para o meu destino) e eu perdi o começo do show, cheguei ao finalzinho e não encontrei meu pai lá, como combinado. Mas o som de Arrigo, sempre diferente e empolgante, embalava quem o assistia.

Bem indignada, mas ainda animada para a noite, fui para cara para esperar a hora da suspensão corporal e, neste meio tempo, passando pelas ruas vi várias outras coisas. Passei por um lugar que me é estranho, ouvi um reggae, vi e evitei uma avenida lotada até que vi, andando na minha frente, duas senhoras que facilmente poderiam ser minhas avós, comentando animadas sobre tudo de lindo que viram na Estação da Luz e que iam agora para casa, todas faceiras por terem ficado uma tarde toda na Virada Cultural.
É justamente esse o clima, gente na rua com o mesmo interesse (ainda que queiram ver atrações diferentes) o de curtir um fim de semana variado. São Paulo fica, neste fim de semana de festival, a céu aberto, mais segura, mais alegre e mais (por que não?) familiar. Pelo menos é essa a sensação que eu tenho das duas vezes que fui para a cidade só para isso, de clima de família, de correria boa pra ver o que se curte, de noites agradáveis e de ver gente de bem com a vida cruzando com você pelas calçadas.
Ao chegar em casa comi, comi e comi mais um pouco, aí parti para as suspensões corporais. Perdi uma das minhas atrações escolhidas, desta vez não vi nem o final e decidi que “por hoje seria só, pessoal” e fui embora descansar. Já estava tarde e eu estava na rua desde antes da Virada começar oficialmente, bem antes, hora do almoço, mais ou menos, e fui dormir o sono dos injustiçados.
No quarto escuro, sem sono por causa da agitação e da correria do dia, olhei minha bolsa ali pendurada e o caderninho na mesa e pensei que esta deve ter sido sim, a Virada Cultual mais legal pra mim, a Virada na qual eu passei mais tempo “apenas” zanzando pelas ruas, vendo as luzes da cidade, ouvindo de curiosa as conversas das pessoas que passavam, parando sem ter planejado em lugares que eu nem sabia o nome e sentindo o alívio que traz aquele friozinho que chega com o cair da noite, que tira o peso de caminhar sob o sol.
Decidi, antes de minhas pálpebras serem empurradas para baixo por força maior, que as minhas próximas Viradas seriam assim: sem planejamento (só o necessários para ver o que eu realmente amar e não puder viver sem na programação) e sem muitos horários, só indo por onde o som fosse mais interessante e as luzes mais brilhantes.
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A Virada que surpreendeu

Elisa Grego e Pedro Bastos


Nos dias 15 e 16 de maio a cidade de São Paulo foi mais uma vez presenteada com a 6ª edição da Virada Cultural. Durante 24 horas ininterruptas moradores e visitantes da maior cidade do país puderam aproveitar todo o espetáculo que a Secretaria Municipal de Cultura proporcionou. A cidade dá uma pausa na correria e na loucura do dia-a-dia e se deixa levar pela mística criada por uma overdose de entretenimento. Talvez esse evento seja o único capaz de parar a “cidade que não para”.

Maravilhoso, não? Afinal, quem não gostaria de participar de um evento de tamanha proporção e com as atrações sensacionais que ele prometia? Pois é, nós dois não gostaríamos. O problema é que cobrir a virada fazia parte do calendário da disciplina “Jornalismo Cultural” que cursamos. Até tentamos expor nossos medos para nossa professora para saber se havia a possibilidade de fazer outro trabalho, mas, no fim, a consciência pesou e decidimos tentar. Afinal, não custa nada tentar, não estávamos indo cobrir a guerra no Iraque, era só a Virada Cultural! (Apesar de saber que a guerra não era nosso destino, levamos nas mochilas bagagem de quem embarcava rumo ao Iraque: trocas de roupa, cobertores, bolachas para sobreviver uma semana, etc.)

Mas nosso medo e falta de vontade começaram a dar lugar ao divertimento, companheirismo e descoberta de uma realidade completamente diferente daquela que estávamos acostumados a viver no momento em que entramos no carro para partir. No início, não deu muito tempo de se preocupar com o evento, já que, diferentemente da enorme maioria dos campineiros de 20 anos, nossa carona não tinha o menor medo de dirigir em São Paulo e o fazia de forma, digamos, radical. O problema é que ela era seguida por outra campineira que tinha medo de dirigir pelas marginais paulistanas e não fazia a menor idéia do caminho. O resultado foi uma combinação de adrenalina, muitas paradas para esperar a companheira que vinha no carro de trás e havia se perdido, e muitas risadas.

Enfim, chegamos! Encontramos um estacionamento próximo ao nosso “quartel general” (um de nossos colegas cedeu seu apartamento, muito bonito e estrategicamente localizado, para que todos os integrantes da nossa turma se reunissem, trabalhasse, dormissem, e coisas do tipo), desembarcamos com nossas milhares de bugigangas, compramos um número razoável de latinhas de cerveja para poder dar uma “relaxada” na volta, e partimos rumo ao nosso destino: a Estação da Luz.

Nossa função era cobrir as apresentações de música clássica que aconteceriam ao lado da estação. Como muitos outros eventos cercariam esse tradicional ponto da cidade, outras quatro colegas nos acompanharam no metrô para maior segurança. O embarque e a baldeação foram bem tranqüilos (o único problema foi que nos perdemos das nossas colegas numa hora em que muita gente entrou no vagão), mas o desembarque nos colocou em uma situação desconfortável. Como todo bom cidadão do interior, fizemos um mapa da rota que seguiríamos pelo metrô. Nossa inocência nos fez acreditar que, por se tratar de uma estação, a Estação da Luz seria um ponto de parada do metrô. De fato, existe uma parada chamada “Luz”, mas ela fica a uns trezentos metros da Estação da Luz. Existe um caminho subterrâneo nesse ponto de parada que leva à porta da Estação da Luz, mas pela falta de sinalização, acabamos não encontrando esse caminho. Nós avistávamos a Estação, mas não fazíamos ideia de como chegar nela. Perguntamos para um segurança e ele nos indicou um pontilhão que nos levaria ao nosso destino, são e salvos. O problema é que perto de onde estávamos se encontra a “Cracolândia”, uma das principais favelas e ponto de tráfego da cidade, e o fim desse pontilhão que atravessamos dá em um pequeno beco no qual uma parte da cracolândia se encontrava. Um mau cheiro horrível e centenas de pessoas agrupadas em um espaço pequeno, provavelmente vendendo drogas. Não conseguimos saber exatamente o que acontecia, já que apertamos nossas mãos com todas as forças e passamos de cabeça baixa o mais rápido que pudemos. Foi uma sensação horrível que nos deixou com a impressão de que nossa noite seria composta basicamente de apuros como aquele.

Engano nosso. A Estação da Luz é algo fora de série. Estava simplesmente maravilhosa toda iluminada, e o ambiente criado por toda aquela imponência que ela possui era muito diferente. Quando chegamos, a Jazz Sinfônica de São Paulo acabava de iniciar sua apresentação no palco montado bem ao lado da Estação, em frente aos portões do Jardim da Luz. Não estava muito cheio, mas o clima criado pela presença de um público totalmente misto, com homens e mulheres de todas as idades, inclusive idosos, era muito interessante. A Jazz Sinfônica, que surgiu com o intuito de desmistificar e popularizar a música erudita através da mistura com canções populares, fazia uma apresentação bonita, mas não muito animada. Durou pouco mais de uma hora e, no fim, foram aplaudidos de pé. Continuávamos impressionados com a imponência da Estação da Luz, mas relativamente desanimados com a música.



Público na Orquestra Jazz Sinfônica. Foto: Elisa B. Grego



Como o próximo show, o da Orquestra Sinfônica Municipal, aconteceria somente duas horas depois, saímos em busca de alguns colegas que estavam nas proximidades para acompanhar suas coberturas. Encontramos alguns em um passeio pelo Jardim da Luz, passeamos pelas quase vazias apresentações de bandas independentes, visitamos a exposição da Pinacoteca, mas nada disso foi tão emocionante quanto cantar “Galopeira”, uma das músicas sertanejas mais conhecidas no país, com umas vinte pessoas que cercavam um piano situado no meio da Estação da Luz. As pessoas eram muito simples, inclusive aquele que fazia a melodia no piano, mas se divertiam muito ao som sertanejo produzido pelo piano. Cantamos juntos, demos muita risada e, quando saímos de lá, eles já estavam emendando mais uma canção para cantar todos juntos.


Cantando "Galopeira" no piano da Estação da Luz. Foto: Elisa B. Grego


Depois de quase uma hora na fila para comer um pastel (e de ouvir muita gente inconveniente brigando com as pessoas da barraquinha de pasteis), percebemos que a quantidade de gente na frente do palco da música clássica havia aumentando muito. Já não tinha mais lugar para sentar, e as pessoas já se aglomeravam na parte central entre as duas fileiras de cadeiras. Pegamos cadeiras das danças, que ficava bem próximo e estava vazio, e conseguimos nos acomodar. De repente, muita gente começou a chegar. Sabíamos que Orquestra municipal era boa, mas não lembrávamos de a ópera que eles apresentariam, Carmina Burana, de Carl Orff, era tão conhecida assim. Ficou tudo completamente lotado. As laterais do palco e todo o espaço atrás das cadeiras ficaram abarrotados de gente.


Orquestra Sinfônica Municipal e Coral Lírico. Foto:
NILANI GOETTEMS/AE





Quando o show começou, todo aquele esforço se justificou. A Ópera é realmente magnífica. Um começou arrasador arrepiou a todos e arrancou muitos aplausos. Ficamos muito emocionados e empolgados com aquela apresentação. Apesar de alguns estranhamentos com a melodia contemporânea da ópera, fomos surpreendidos por uma apresentação realmente muito comovente. A ópera contou com uma encenação feita por um grupo que dançava contra a luz fazendo com que sua enorme sombra incidisse no prédio da estação. Não dava para saber se acompanhávamos as Bloco de textogigantes sombras das encenações ou se tentávamos enxergar a orquestra ao fundo. Mas, não importa onde a pessoa estivesse, de qualquer lugar ela enxergaria, ouviria e sentiria a emoção desta ópera.



Público da Orquestra Sinfônica Municipal. Foto: NILANI GOETTEMS/AE




A apresentação terminou à meia noite, sem confusões na saída e com muito policiamento. Grande parte das pessoas se dirigiram inocentemente à barraca de pastel. Mal sabiam eles que ficariam algumas horas na fila. Nós encontramos nossas colegas e uma maneira mais fácil de chegar à parada do metrô, sem passar pelos becos da Cracolândia. Vale lembrar que encontramos José Serra, candidato Tucano à presidência, dando entrevista em frente à pinacoteca e sendo vaiado por alguns petistas, que gritavam histericamente: “DILMA, DILMA!”. O mais engraçado era que todos pareciam tentar proteger uns aos outros na nossa turma. Nos vigiávamos, andávamos de mãos dadas e coisas do tipo para nos proteger de possíveis confusões ou aglomerações.


Conseguimos chegar sãos e salvos ao nosso Quartel General. Não havia nenhuma atividade jornalística acontecendo por ali, e a cervejinha que havíamos comprado já estava sendo consumida pelos que chegaram mais cedo. Com o passar do tempo, o resto do pessoal foi chegando e aquilo acabou virando uma grande festa da turma.

Pode parecer que esse final foi a parte mais legal da “aventura” para nós. Mas não foi. Na verdade, as coisas se completaram. Foi uma emoção diferente participar de um evento tão grandioso. Sabíamos que ele era grandioso, tem que estar lá, tem que ver aquele monte de gente junta, para saber realmente do que se trata. Além disso, o fato de termos cuidado muito um do outro só serviu para nos unir mais e mostrar que estamos prontos para enfrentar situações que imaginávamos ser completamente amedrontadoras. Muito provavelmente, ninguém que participou dessa cobertura realizada pela turma hesita em dizer: valeu a pena.

Confira o vídeo que gravamos no momento mais emocionante da ópera Carmina Burana:


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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Deixa isso prá lá, vem prá cá, o que é que tem?

Gabriela Borini e Renata Assumpção

Havia algo diferente no ar. Era só olhar para os lados ao entrar no metrô e não se notava a pressa e o semblante taciturno costumeiros; as pessoas pareciam mais leves, sorrisinhos à meia boca eram constantemente flagrados. Seguimos para a Praça da República por caminhos distintos: uma pela estação da Luz, outra pela estação Anhangabaú. Durante o trajeto também experienciamos coisas distintas, mas, por longas 24 horas, nós e os que ali estiveram fomos os reis e as rainhas da cidade.


Fotos do Flickr de Adar Rodrigues

Fim de tarde em São Paulo. Milhares de pessoas caminhavam a céu aberto entre os palcos da Virada Cultural 2010. Na saída do metrô, o piano no centro da Estação da Luz nunca foi tão requisitado. Sentindo-se artistas, alguns despendiam longos minutos numa invenção rítmica por vezes até agradável aos ouvidos, enquanto outros permaneciam em pé ao redor do piano, soltando aplausos ao final de cada apresentação.
Próximas umas as outras, as atrações pareciam se multiplicar ao pisarmos na calçada pela primeira vez naquela noite que prometia ser divertida e longa. No Parque da Luz, ainda naquela região, um público de aproximadamente 200 pessoas esperava a apresentação brilhante e colorida de Vagalume "Die Lichtwesen" marcada para as 21 horas. Famílias haviam deixado suas casas entusiasmadas – como dissera um pai – para assistir à performance de um grupo que, interagindo com quem por ali passava, faria uma encenação teatral.


Fotos do Flickr de Atila Sarkozy e Sonico

Meia hora depois do previsto, uma das integrantes surgiu do coreto central vestindo, de fato, uma roupa de luzes – ainda que não tão brilhante assim –, em cima de pernas de pau, e começou a interagir com o público. Imaginava-se que este seria o início da apresentação não estivessem as pessoas deixando o local. Ao se aproximar era possível ouvi-la dizer que o espetáculo era formado por intervenções – sendo aquela a primeira delas –, mas que a grande apresentação estava prevista para 1h da manhã. A organização, segundo ela, tinha divulgado errado a programação. Decepcionados, muitos pais, mães, crianças, idosos, jovens e nós seguíamos em busca de outra diversão.
No caminho até nosso destino final, especial para os amantes do samba, havia um pequeno bar que estava de portas abertas para receber uma parcela subtraída do evento na capital paulista. O hip hop, que vem perdendo espaço na programação desde 2007 - quando um carro foi queimado e 11 pessoas foram presas durante uma briga entre público e polícia no show do grupo Racionais MCs -, ganhou um cantinho na avenida Prestes Maia para não cair no esquecimento. Além do estilo norte-americano, um gênero tipicamente brasileiro dominava o espaço. Entre som alto, fumaça e fogo artificial, homens e mulheres seguravam copos de cerveja nas mãos e dançavam animados o funk carioca.


Fotos do Flickr de Adar Rodrigues

O tempo passava e precisávamos continuar o passeio. A noite seguia fresca e agradável aos quatro milhões de pessoas e o frio que domina a capital paulista foi mais ameno naquele sábado. De acordo com a organização do evento, quatro mil policiais estavam espalhados pela cidade. Por onde passávamos víamos homens e mulheres devidamente uniformizados com suas armas e seus coletes que pareciam não só garantir segurança da população, mas também aptos a dar informações. Sempre simpáticos e com um sorriso estampado no rosto, nos parecia que o fato de estarem trabalhando não era problema. Próximo ao Vale do Anhangabaú, enquanto um grupo dançava em um palco minúsculo e uma mulher dublava a cantora Beyoncé, policiais, embalados pela música pop e pela empolgação do pequeno público, ensaiavam leves passos, no melhor estilo "dois prá lá, dois prá cá". No mesmo local via-se ainda cachorros perdidos, casais namorando, catadores de latinhas e muitos, muitos grupos de amigos.



Em meio a tanta atração, era como se cada dez passos definissem o limite onde começava uma música e outra. Do alto da ponte do Vale observávamos abaixo um conglomerado de pessoas numa espécie de ponto central. De lá e para lá, ruas, avenidas e pontes serviam de acesso a pessoas para o mais eclético palco da noite, por onde passariam, por exemplo, Hermeto Pascoal, The Temptations e a Orquestra Popular do Recife.
Ao aproximarmo-nos da República do Samba, pudemos ouvir as notas roucas e abafadas cantadas pelo apresentador – de noite, eu rondo a cidade a te procurar, sem te encontrar. Ele tentava, mas só uma centena das 15 mil pessoas que esperavam ansiosamente pelo Baile do Simonal o acompanhava. Naquele mar de gente, vez e outra éramos surpreendidas pelo surgimento de gigantes, quando enfim percebemos a existência de uma pedra, de grandes proporções, que servia como apoio para aqueles que buscavam uma vista privilegiada no meio daquela batalha por cm² que se instaurara – o show estava para começar.


Wilson Simoninha e Max de Castro - Fotos do Flickr de Priscila Azul

Os primeiros acordes soaram e Wilson Simoninha e Max de Castro apareceram no palco cantando com a multidão – prá lá de animada, diga-se de passagem. "Quando eu era neném, não tinha talco mamãe passou açúcar em mim". Ao nosso lado, uma jovem loira, arrumadíssima, se pendurava em um dos monumentos da praça para cantar – ou gritar – junto com os filhos do grande Simonal. O coral paulistano seguiu cantando as grandes canções do mestre – "meu limão, meu limoeiro, meu pé de jacarandá..."; "ela vem chegando, e feliz vou esperando, a espera é difícil, mas eu espero sambando...". Que maravilha! – dizíamos. Logo ao lado uma jovem nos ombros de um rapaz batucava seu pandeiro no ritmo do samba. Mas, foi ao som de "Sá Marina" que a multidão veio abaixo, todos cantavam sorrindo acompanhando os irmãos que com maestria dominavam o palco. Foi "Sá Marina" também a canção escolhida para a canja. O relógio indicava que havíamos passado 60 agradáveis minutos ao som de Simonal quando a dupla deixou o palco.



Foram poucos os que se retiraram dali. Dentro de alguns minutos, tomaria o palco o grande Jair Rodrigues. Todos esperavam ansiosamente quando Jair pulou no palco, com sua empolgação já muito conhecida. "E deixa que digam, que falem, que pensem, deixa isso prá lá, vem pra cá, o que é que tem?", cantou e contou participação empolgada do público. Emocionado, homenageou a amiga e companheira de festivais, Elis Regina, com a música "Arrastão".


Jair Rodrigues, do Flickr de Rafael Ianni, e Sidney Magal, do Flickr de Renato Luiz Ferreira

Foi neste momento que nos separamos para acompanhar um lado, digamos, mais brega da Virada. No palco Vieira de Carvalho, no Largo do Arouche, o sangue de aproximadamente 35 mil pessoas fervia por Sidney Magal, que não era o único a comandar a festa: da janela do terceiro andar, um senhor de pijama conduzia uma parte do público que o acompanhava: mãos para cima, pra direita, agora pra esquerda. Como ele, muitos se balançavam nas janelas enquanto Magal pedia a todos que sorrissem, cantassem e que balançassem seus corpos sem parar. Ele cantou ainda o clássico "Haja Amor" de Luis Caldas, que se apresentaria logo em seguida, no mesmo palco. E assim foi, tudo muito apertado, muito engraçado e muito colorido no "palco do brega" – como ficou conhecido informalmente -, difícil de chegar e difícil de sair.



Há alguns metros dali, Jair cantava sucessos da música popular brasileira em um tom emocionado. Reunimo-nos novamente. Jair pulava de um lado para o outro do palco. "Eu fiz um show ontem à noite até de madrugada, um pela manhã em Bauru, um agora à tarde em outro lugar de São Paulo e agora estou aqui com vocês", Nos entreolhamos e, praticamente juntas, dissemos: quero envelhecer assim. Copiamos o mestre e saímos pulando quando ele canta as primeiras notas de "Tiro ao Álvaro", em homenagem aos 100 anos do compositor Adoniran Barbosa. "Meu peito até parece sabe o quê? Táuba de tiro ao Álvaro. Não tem mais onde furar."



Foi então que experimentamos mais uma, das muitas que passamos neste dia, sensação: o cansaço. E ele nos venceu. Decidimos fazer o caminho de volta, dessa vez juntas. Rumamos para a estação de metrô mais próxima – a República – sentamos no trem e, às 3h30 da manhã, semi-vivas e em silêncio, nos separamos na estação Consolação. Missão cumprida.

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Aqui se faz, aqui se vê

Thomaz Torina


Trânsito totalmente congestionado. Impaciente, vou me enfiando aqui e ali e consigo pegar a paralela. Ando algumas quadras e retorno para a rua de onde acabara de sair na esperança de driblar uma parcela da lentidão e encontrar um fluxo mais tranqüilo. Nada feito. Mesmo com o empenho dos organizadores, a Virada Cultural 2010 apresentava pontos de lentidão.
A sensação de estar no centro da cidade de São Paulo e não ouvir uma buzina, não avistar um carro se confundia com a euforia de estar em um evento cultural enorme realizado em praças, ruas, teatros da maior cidade do país. Mesmo acompanhado por dois amigos, o frio na barriga, os olhos atentos a tudo que acontecia e a fala que se perdia entre risos e piadas sem sentido queriam estar presentes.
Começamos nossa caminhada algumas quadras abaixo da Avenida Paulista. Eram raros os carros que trafegavam por ela. A noite era mesmo especial. Na fila do metrô, por mais que eu não quisesse passar a imagem de caipira, era inevitável o sentimento de novidade. Nós estávamos alguns palmos abaixo da terra!Era como estar em um shopping center, cercado por paredes de concreto, sem poder ver o que acontecia do lado de fora e com muita gente ao redor.
Quando a lata sobre trilhos se aproximou, só pensei em uma coisa, não ficar pra fora. Aquilo voava, e eu pensava em outra coisa: já imaginou se isso aqui descarrila. Depois da baldeação, pedimos uma informação sobre a saída e o guarda falou o que já era de se esperar: “Segue o fluxo”. A multidão ia tranquila e já dava pra ver as escadas. Ao pisar na rua, foi como se eu estivesse emergindo de águas profundas, voltando à superfície.
Decidi não me arriscar de cara e partir sozinho para ver as atrações que eu já havia planejado. A idéia de seguir a dupla que eu acompanhava e assistir ao Baile do Simonal com Wilson Simoninha e Max de Castro não me pareceu ruim. A caminhada foi longa e durante o caminho fui me soltando e entrando no clima. Só foi preciso começar o show pra esquecer de vez o receio e embalar na noite. O samba estava quente na lotada Praça da República e o público que ia desde jovens de todos os estilos até senhoras, passando por mulheres de meia idade, não poupava o gingado. Alguns buscavam nas árvores um lugar melhor pra assistir ao show, outros subiam nos monumentos. Observei por alguns segundos uma garota que parecia muito à vontade, nos ombros de um rapaz, estampando um sorriso alegre e acompanhando com seu pandeiro o ritmo da batida.

Praça da República lotada durante o Baile do Simonal


Durante a apresentação decidi que iria até o palco do reggae assistir ao primeiro show da madrugada de sábado, à 1:00 da manhã. Sem saber para onde seguir, me informei com um dos muitos policiais que prestavam serviço naquela noite. A se fosse sempre assim! Após as instruções me lancei em nova caminhada, dessa vez, sozinho. No percurso, alguns bêbados amparado pelos amigos, um grupo de ciclistas em umas bicicletas engraçadas e a "presença" ilustre de Lady Gaga em um vestido vermelho acenando para os fãs. Mais a diante um pequeno grupo, porém, muito agitado, prestigiava a atuação de Junior Meirelles no Palco para uma pessoa só. O músico dobrava seus vocais com gravações momentâneas, simulando dois back vocals e , com isso, podia cantar a letra acompanhado por mais de uma voz. A performace parecia agradar muito o público. Continuei o caminho e fiquei espantado com o que vi: uma quantidade impressionante de pessoas e lá no horizonte o palco.
  

Quando se enfrenta situações como essa, dois extremos apitam dentro da cabeça feito uma luz de emergência: ou vai, ou racha. Optei pela decisão de vestir a aura de gladiador, enfrentar os leões e ficar cara a cara com o rei. A comparação não é de todo exagerada. Diferente das atrações que eram realizadas nas praças, o público que decidiu prestigiar o reggae na Rua Barão de Limeira se espremeu em um corredor cercado de prédios onde o ar não circulava muito bem. O meio estava impenetrável e a calçada me pareceu uma boa rota. Tomada por casais que se encostavam nas paredes, parecia não ser muito visada pela massa, mas só fui me dar conta do engano quando, sem perceber, já estava novamente no centro da multidão e o palco demorava a chegar. O Cidade Negra se despedia tocando a saidera e o próximo show prometia: Fully Fullwood Band, banda que leva o nome do ex-baixista de Bob Marley & The Waillers. A caminhada continuava muito difícil e, por duas vezes, quase cai dentro da churrasqueira de um vendedor ambulante. O calor e a dificuldade de respirar incomodavam e quase desisti, mas perder a oportunidade e esperar por um ano me pareceu demasiado desvantajoso. Pensei em pegar uma paralela e entrar mais a diante, o que não adiantou muito.


Após 45 minutos de luta, finalmente eu estava lá, meio sem saber como, de frente para o palco, esperando ansiosamente ouvir os acordes daquele baixista que, junto com Bob Marley, fazia do reggae um som de poder. O atraso de 40 minutos sequer deixou a galera irritada e quando a banda entrou tocando Bufallo Soldier a multidão parecia levitar: os sorrisos e as mãos para cima geravam uma atmosfera de conforto, mesmo com o aperto. O repertório variou entre composições de Peter Tosh e Bob Marley, mas era quando as canções de Marley eram tocadas que a multidão se agitava de verdade. O baixista Fully Fullwood foi alvo de muitas palmas e mesmo grisalho arrepiou em um solo arrancando gritos da multidão. Em seguida anunciou a clássica Jamming como saidera, levantando o público.

Show encerrado, a missão agora era ir pra casa. Vencer a massa no caminho da volta não era algo que eu queria fazer. Vi que algumas pessoas também compartilhavam essa idéia e pulavam uma grade na lateral do palco. Não pensei duas vezes e pulei também. A saída pela porta dos fundos nunca foi uma má idéia.

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São Paulo: o lugar da diversidade

Por Ricardo Gouvêa e Vânia Macul.


São Paulo, capital onde se encontra uma diversidade grande de públicos e de hábitos. Na virada cultural não foi diferente.
Várias tribos urbanas perambulavam pelas ruas em uma noite de festa, afinal toda a cidade era alegria e apreciação. Cada um a seu modo, sozinho, com amigos ou em família. Para receber a virada cultural, ocorrida nos dias 15 e 16 de maio, a cidade foi reorganizada, inclusive o tráfego, que ficou restrito em alguns pontos. Havia uma infra-estrutura própria para receber tamanho público: policiamento reforçado, bombeiros, banheiro químico. O acesso ao local de ônibus e metrô foi fácil, tanto na ida, como na volta.
No nosso caminho até o Vale do Anhangabaú pudemos observar uma caminhonete com uma banda de anime na caçamba seguida por fãs; uma luta de pessoas fantasiadas de personagens do Star Wars; insetos gigantes manipulados por pessoas; um agigantador de pessoas, que na verdade era uma projeção da imagem em um edifício em muito alto.


Imaginautas da Virada
Praça Antônio Prado
A colaboração do grupo “Imaginautas” para a vira
da cultural paulista de 2010 foi a ocupação e decoração da praça Antônio Prado. O primeiro desafio foi localizar a praça, uma vez que as pessoas, algumas da organização, inclusive, não sabiam nos informar onde ficava a praça. Chegando ao local, a primeira impressão foi muito boa. O som, que contava com um Dj, era de boa qualidade e o ambiente excelente, muito organizado. Era a primeira vez que o grupo participava da virada cultural. Sua ação foi baseada em três pilares: colaboração, instalação e interatividade, procurando transformar a praça em uma galeria aberta de artes integradas.


Marilia Dozzidon

Os “Imaginautas” são um grupo de artistas que se reúnem em um happening para expor trabalhos próprios, como as fotos da estudante Marilia Dozzidon, que fez um trabalho social em Recife e estava exibindo algumas imagens. Havia também instalações de grafite, projeções, performances, desenhos, declamação de poesias.


A Rede Colaborativa Imaginautas contou com participantes de Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Luis e Curitiba, e também por artistas autônomos que se inscreveram pelo site. E o resultado foi positivo porque a produção e realização da ação na virada cultural foram feitas de maneira colaborativa. Pessoas de outras cidades vieram não só para prestigiar a estréia do grupo na virada, mas também para colaborar.



Ghustavo Távora
Ghustavo Távora, designer e idealizador do projeto, conversou com
a equipe para contar um pouco da experiência. “A idéia dos imaginautas da virada é trazer arte interativa ao público que foi construída de maneira colaborativa entre os membros das cidades”. Seu foco está na construção de uma rede social artística nessas cidades a partir de workshops que trabalham com a comunicação visual.

Nos chamou a atenção vários copinhos de plástico enfileirados. Quando olhamos mais de perto vimos que se tratavam de sementes de araucária que os espectadores podiam levar para casa e plantar.



O Workshop de Fotografia Criativa e Vídeo Experimental surgiu em 2004, como projeto de monografia de Ghustavo Távora – graduado em Design pela UFPE, sendo apresentado, inicialmente, no Centro Pernambucano de Design - Casa da Cultura. A partir daí, foi adaptando-se às instituições, sendo realizado na Cultura Inglesa, no Colégio Equipe, na Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), São Luis (UNIVIMA) e Alcântara (Comunica) - MA, Belo Horizonte (Café com Letras e Palácio das Artes) - MG, entre outros.


Pianista suspenso

Outra manifestação artística observada (e aguardada ansiosamente pelo grupo) foi a apresentação do pianista suspenso por um guindaste. A façanha, de tirar o fôlego, aconteceu no Vale do Anhangabaú e atraiu uma multidão que aplaudiu acalorosamente o pianista corajoso. Se para tocar piano já é necessário uma habilidade, tocar um piano nas alturas balançando de um lado para o outro exigiu mais habilidade ainda. O pianista se mostrou tranqüilo e tocou muito bem, não apresentando sinais de nervosismo. Quem ficou mais tenso foi o público que vez ou outra exclama um “ahhh” ou “ohhh”. Para garantir a segurança do pianista, seu banquinho foi preso ao piano em uma estrutura reforçada e sete cabos içavam o conjunto todo, inclusive um que estava em sua roupa. A performance durou pouco mais de dez minutos e prendeu a atenção de todos que estavam no local.


Grupo Ares: “Tempo Ausente – Anjos Urbanos”
A peça “Tempo Ausente – Anjos Urbanos” foi um espetáculo apresentado pelo grupo “Ares”. O mais inusitado é que a apresentação foi vertical, na fachada do Shopping Light. Os acrobatas se apresentaram descendo do prédio em cordas, como num rapel, viraram de ponta-cabeça, saltavam apoiando-se no parapeito das janelas do edifício e balançavam no ar, arrancando suspiros da platéia.
A narrativa, de trinta minutos, é baseada em uma lenda na qual um anjo se apaixona por uma trapezista e decide se tornar humano para viver um grande amor.
A idéia do grupo é estimular, através de imagens poéticas, novas formas de pensamento na cidade, de maneira alternativa e fantástica. “A linguagem cênica proposta utiliza os anjos como metáfora para tecer um poético e sensível estudo sobre a condição humana. Numa linguagem simples e abstrata fala da experiência urbana e, portanto, humana das pessoas”. Nos contou o artista Daniel Wolf, participante da peça.


Daniel Wolf (de preto) com o grupo
Em um misto de realidade e ficção, ora monocromático, ora colorido, “Tempo Ausente” fala sobre a disputa entre o divino e o efêmero na existência humana. A trilha sonora do espetáculo ficou por conta da banda “Pedra Branca”.


Banda “606”
Dentro do Shopping Light, o mesmo da apresentação do grupo Ares, a banda “606” fez uma apresentação na praça de alimentação. Cantando o melhor do rock internacional, à lá Kiss FM, a banda fez todo mundo levantar e agitou a todos que passavam pelo shopping. Uma das fãs mais enlouquecidas subiu no palco e agarrou o vocalista. Uma senhorinha muito animada gravava tudo em sua filmadora. Veja alguns trechos do show no vídeo abaixo.


Assista ao vídeo com os melhores momentos


*Fotos e vídeo: Ricardo Gouvêa e Vânia Macul
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Não é outra dimensão, é a Dimensão Nerd

Rafael Roncato e Lucas Hackradt
O ar está diferente na cidade de São Paulo, talvez mais frio que o normal para esse sábado, dia 15 de maio. Algo está fora do comum e não é exatamente a temperatura. Pode ser o clima, as pessoas, os lugares, o movimento - tudo saiu do habitual. Tudo bem que o normal de São Paulo é a mais pura agitação, mas hoje vemos algo único, um movimento mais de ida do que volta. A população vai de encontro ao centro da cidade para uma das maiores agitações do ano: a Virada Cultural. Essa festança só pode perder para as duas maiores folias do ano no Brasil, Carnaval e Parada Gay.

Não são nem quatro horas da tarde, e já se nota na Avenida Paulista uma crescente migração, sorridente e brincalhona, de todo tipo de gente para a festa do dia, que infelizmente não pode ser infinita. Para quais apresentações e locais aquelas pessoas estariam seguindo, aparentemente sem pressa alguma? Não importa, a comemoração seria boa de qualquer maneira, independentemente do lugar ou show; a alegria parece estar em ver e fazer de tudo um pouco, acompanhar o movimento do Sol, poente ou nascente, em meio a muita cultura. E melhor: é tudo diversão gratuita.

“Vambora para festa?”, pergunta Ricardo Cruz, já se direcionando para porta do apartamento. Mesmo ainda relativamente cedo, tínhamos que chegar antes na Praça João Mendes para os preparativos e instruções da Dimensão Nerd, pela primeira vez uma área completamente dedicada a tudo que se relaciona com o universo nerd, que aconteceria na Praça Roosevelt. Ricardo não queria sair antes para disputar um bom lugar, ele tinha que sair logo porque fazia parte de um dos eventos da Dimensão Nerd, sua voz era requisitada para guiar, em cima de um trio elétrico, um desfile, ao melhor estilo carnavalesco, com pessoas vestidas de seus desenhos animados favoritos.
ATÉ DE "OS IRMÃOS MARIO" O PESSOAL FOI VESTIDO À DIMENSÃO NERD
Seguimos para a estação Trianon-Masp. Ao entrar no trem, nota-se que algumas das pessoas ali dentro também seguirão para o mesmo destino: elas são facilmente reconhecidas por meio de tiaras ou gorros com orelhas de gato, ou por assessórios não muito usuais, como saias de colegiais, sobretudos negros em conjunto aos óculos escuros no melhor estio Matrix. Por um segundo, com os novos trens e aquelas pessoas, parece que fomos transportados para alguma estação no Japão, cercado pelas mais curiosas figuras das ruas de Tóquio; esse devaneio é quebrado ao chegar ao Paraíso (a estação de metrô). Fazemos uma rápida baldeação em conjunto aos nossos amigos de interesses comuns, agora conversando mais alegremente, tão próximos de sua private Tóquio: o bairro da Liberdade.

Alcançada a Liberdade, encontramos ainda na estação outros cantores que também fazem parte do trio elétrico nipônico, mesmo que apenas um deles possuindo traços orientais. Realmente, parece destoar a música japonesa ser cantada por pessoas que aparentemente não possuem ligação alguma com a terra do sol nascente. Na verdade, não é nenhum pouco esquisito para quem convive nesse meio; tão normal que ao redor vemos mais gente ligada a essa cultura através de laços mais afetivos que, de fato, sanguíneos. Enquanto japoneses e não japoneses continuam a se encontrar, fantasiados ou apenas com alguma referência de seu anime ou banda favorita, decidimos que é hora de continuar a jornada. Para chegar ao destino é fácil: segue-se os nerds.

Após acompanhar um pequeno grupo de nerds sem sermos notados, descobrimos, além de seus curiosos hábitos, que o ponto de encontro para o bota-fora do desfile estava próximo, bem ao lado da catedral da Sé, onde havia uma imensa pista de música eletrônica para os mais animados. Mesmo com o pequeno número de pessoas na praça, apenas aguardando maior número e poderem marchar – ou desfilar – pelo centro da cidade, cerca de quatro policiais já estavam de olho, comentando e rindo de algumas fantasias mais cômicas. A gargalhada é quase unânime quando chega Tomelirolla, “o gordinho tarado” do site Mundo Canibal, com sua cabeleira ruiva, cara coberta por sardas, óculos fundo de garrafa, camiseta justinha e o calção com uma protuberância nada simpática para quem fosse pego de surpresa.

Passando pela estupefação, notam-se outros personagens realmente conhecidos, como o pirata Jack Sparrow, a Harlequim, uma das muitas arquiinimigas do Batman, alguns personagens do game Street


GAROTOS FANTASIADOS SE DIVERTEM NA PARADA NERD.

Fighter, um mini Naruto e pelo menos três personagens de Dragon Ball Z. Alguns ciclistas que passavam rapidamente pela praça paravam para observar e se divertirem junto com os fantasiados, que encarnam até os trejeitos dos personagens; um descuido e você pode esbarrar no pirata bêbado ou ser surpreendido pelo volume do gordinho ruivo safado.

Enquanto os personagens conversavam, os cantores e o motorista se aqueciam cada um de sua maneira e com seu instrumento da noite. Motores ligados, caixas testadas, goles d’água tomados, lista das músicas decididas, agora é só esperar mais participantes. Como em qualquer festa, ou comício, som ligado é imã de pessoas; à medida que as primeiras notas e os primeiros versos em japonês são tocados, os personagens e os participantes mais tímidos para fantasias agrupam-se
PARECE O JACK SPARROW. MAS NÃO É.

em volta ao carro de som e começam a cantar. Chegou a hora.

Às 17h30, uma fila muito parecida a de marchas em comemoração ao dia da independência é formada, três cantores ficam na parte superior do trio elétrico, os outros três seguem ao lado esperando a vez de trocar e, assim, cantar as músicas escolhidas. O carro segue pelas ruas do centro, passando entre lojas ainda abertas; vemos lojistas boquiabertos e transeuntes embasbacados com a cantoria nipônica. A maioria acaba entrando no clima da festa nerd arriscando alguns passos de dança, balançando as mãos e oferecendo calorosos tchauzinhos aos participantes. Quem poderia esperar por isso?
Na primeira parada para troca de cantores, mais pessoas aproximam-se para tentar entender um pouco daquele carnaval fora de época. Vendedores ambulantes, moradores de rua e outros pedestres da Virada são atraídos pela animação dos nerds, passando de um começo tímido, um pouco contido pelo frio, para hinos japoneses televisivos cantados de maneira uníssona. Mesmo com tanta diferença entre todos que participavam, todos dividiam algo em comum nesta noite: a alegria.

Logo após algumas músicas de Ricardo e mais uma parada, decidimos ir ao banheiro mais próximo. Ainda bem que tem apenas uma pessoa na frente. Ainda bem? Nunca vi alguém demorar tanto para fazer o que deve ser feito; com a demora começamos a ficar preocupados com a passeata: “será que já saíram? Quanto tempo mais vai demorar esse camarada? Ele tem algum problema?” Pronto, agora o banheiro é usado às pressas. Depois de terminar, o trio elétrico não está mais onde deveria ter ficado. Numa mistura de desespero e nenhuma visibilidade do carro, corremos para o lado errado – 50% de chance de errar, claro que a Lady Murphy, aquela senhora sapeca, iria nos sacanear.
“O senhor viu um bando de gente fantasiada cantando músicas em japonês?”, perguntamos ao senhor simpático que responde extremamente contente: “Claro, eles foram por ali!” Finalmente alcançamos o trio elétrico que ainda estava em movimento, mesmo que quase parando. Mais alguma paradas e trocas de cantores foram feitas, chegou um momento que a polícia fez uma rápida escolta até próximo a Praça Roosevelt, sertificando-se que nenhum nerd fosse atropelado.
Ainda em cima do carro de som Ricardo anuncia: “É a primeira vez que algo parecido com isso acontece! Agora, vamos até a parte superior da praça para o show da banda J-Squad.” O som é desligado, os nerds se multiplicam e seguem para o palco com os demais que já estavam pela praça. A vontade em continuar a festa com mais música japonesa, agora dirigido por uma banda completa, é tamanha que as barracas com vendas de bugigangas nerds passam despercebidas, menos para meia dúzia de consumistas.

Ao subirmos uma rampa circular que leva ao ponto mais alto da praça, vemos que um palco fora do comum: uma concha acústica que não é bem uma concha, mas sim uma armação metálica vazada imitando uma concha, só que parecendo uma teia armada formando uma semi-oca. Som, iluminação e até fumaça já haviam sido testadas, agora era só aproveitar mais uma hora com as melhores músicas do universo nerd japonês. Nesse exato momento os fãs já ocuparam seus lugares em volta do palco, apenas aguardando a banda. Misturado com o resto do público e destoando, vemos jovens arriscando manobras de skate, famílias curiosas esperando seja lá o que for e, claro, nerds sentados por todos os cantos – esses provavelmente não tiveram o pique para acompanhar o desfile.

O PALCO NA PRAÇA ROOSEVELT, ONDE VÁRIOS SHOWS GEEKS FORAM REALIZADOS.

“Quem nunca ouviu música japonesa aqui?” pergunta um dos cantores da J-Squad assim que a banda sobe ao palco. Timidamente poucas pessoas levantam a mão e o cantor completa: “Então vamos nos divertir agora!” Nesse momento a banda começa a tocar riffs de guitarra que os nerds mais antenados descobrem de imediato qual música é e vibram freneticamente. Deve ser uma música e tanto, ninguém reage dessa forma por nada. Os mais próximos ao palco pulam, gritam e cantam juntamente com a banda, que agora é só sorrisos e animação com o feedback do público.
O som deve reverberar de tal maneira que ao olhar para pontos altos, vejo os moradores tentarem entender o que está acontecendo pelas janelas dos prédios; alguns entram no clima da festa e dobram os joelhos repetidamente como uma forma cafona de dança. O clima de festa é geral, menos para uma mulher sentada no canto esquerdo do palco, bem desanimada e muito bem agasalhada, acompanhada de quatro garotas e dois meninos, cada uma aparentemente de uma idade diferente; não há sinal do pai. O menino mais velho sai para a multidão e desaparece. Cinco minutos depois o garoto passa próximo com uma pulseira que mostra para a mãe. Ela pega, olha e já coloca estranhamente rápido na mochila. Depois de um tempo aparecem dois policiais para conversar com os sete. Eles pedem educadamente o RG, conversam um pouco e querem ver o que ela leva na mochila. Mas os policiais olham, um dos garotos também atrapalha um pouco, e não encontram nada; eles liberam a família, que sai logo em seguida. O policial ainda desconfiado pega uma lanterna e procura algo no chão. Nada.

De repente alguém ao meu lado grita: “Olha ali!”. Inacreditável, é uma invasão estelar: são os personagens de Guerra nas Estrelas misturando-se com as pessoas do universo japonês; em fila indiana eles penetram entre o público do show, atrapalhando a visualização do show. A Marcha Imperial nos vem e toca sem parar – um princípio de nerdice por osmose. A atenção é totalmente desviada, agora a nova atração: são Darth Vaders, Patrols e Jedis armados das mais variadas cores de sabres. Haveria uma disputa por atenção? Guerra nas Estrelas versus banda especializada em tema de desenhos? Nada disso acontece, os guerreiros intergaláticos também querem assistir ao show já que sua passeata chegou adiantada ao destino final que não era em busca de uma galáxia tão distante assim.

“Esse cara que vai contar agora está na banda Jam Project, o maior grupo de animesongs do Japão! Vamos aplaudir Ricardo Cruz!” Em meio aos aplausos e gritos, o cantor vai para frente do palco e anima ainda mais o pessoal.
PERCEBAM O PEQUENO LUKE SKYWALKER DE VERMELHO AO LADO DE SEU PAI
Ele anuncia a música Pegasus Fantasy, abertura de Os Cavaleiros do Zodíaco e uma das mais conhecidas canções dos desenhos japoneses de todos os tempos. Ricardo e outro cantor dividem as vozes. A primeira voz é em japonês e fica por conta do cantor do Jam Project, após alguns versos e o refrão, entra a voz em português. Não importa o idioma, o som é contagiante. Até as duas últimas músicas as pessoas não cansam de pular, algumas até fazer manobras em cima de muros ou algum corrimão perto do palco.

Logo depois da última música, o público se dirige para a parte de baixo da praça onde já se pode ouvir uma gritaria. Com Ricardo, ainda elétrico devido à energia do show, vamos de encontro ao burbúrio. Vemos uma roda e barulho de briga no meio. Aproximamos e, ao olhar entre cabeças, descobrimo que na verdade é uma disputa de sabres de luz, vemos Darth Vader contra Darth Vader, Jedi contra Jedi; só na Dimensão Nerd para ver algo do tipo. Um garoto vestido de demônio – assim imagina-se - passa e pergunta algo que não dá para decifrar. Ele sai parecendo agradecer e vai embora esbarrando suas longas asas nos espectadores da luta. Segue seu caminho e nós vamos seguir o nosso, a festa continua. É bom ter acertado a direção de seja lá o que se tenha indicado. Nunca é benéfico enganar o demônio.
*fotos: Leandro Moraes / UOL
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